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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Balanço SPFW Verão 2012 - dia 5

A turma da moda deste penúltimo dia de SPFW verão 2012 mal quis saber das salas da Bienal. Dos sete desfiles desta sexta-feira (17), três deles ocorreram em lugares alternativos, fazendo os fashionistas pular cedo da cama e movimentar o corpinho (e o look do dia, sempre).
Alexandre Herchcovitch abriu o dia 5 com desfile de sua coleção masculina na loja MiCasa/Lado B, nos Jardins. Aos fashionistas involuntariamente tensos, já que o desfile feminino foi superclean, quase básico, o que não é "normal" em se tratando de Alexandre, o estilista paulistano mostrou coleção atemporal, com referências da caça e da pesca, em looks meio fantasia, como os casacos vermelhos, com maxibolsos, maxicolete de matelassê e os modelos de peruca de canecalon colorido. Imagens abstratas e um camuflado quase psicodélico fazem a estamparia discreta. A riqueza de detalhes como os bolsos enormes se destaca, em peças feitas de camurça, lã e náilon, com aspecto rústico. Legings são sobrepostas a bermudas amplas. Sapato à moda holandesa (sabe o tamancão de madeira?) é a proposta para os pés. Estampa de anzol na camiseta branca revela o pescador street, de butique. A cartela de cores é também influenciada pelo mundo selvagem dos pescadores e caçadores, com marinho, verdes, cáqui, rosa e vermelho (meio uniforme de bombeiro, se visto de longe).






No MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), a Neon apresentou o desfile de verão 2012, com coleção montanha-russa, daquelas que atingem o máximo e o mínimo em questão de segundos. Do vestido-kaftã com manga morcego mega-amplo, estampado, em rosa, roxo (meio lona de circo) e verde ao maiô tomara-que-caia preto, com recortes laterais, bem sequinho, a marca de Rita Comparato e Dudu Bertholini reafirma o já conhecido (e esperado) potencial do trabalho com cores e estampas. Desta vez, o color blocking (bloco de cores), em peças lisas, como a calça sequinha curta, bata ampla sem mangas e o macacão míni, compete com as estampas, que vão do geométrico em preto e branco (com ilusão de ótica, de profundida) ao étnico (o short curto de cintura alta e a camisa de manga-longa são lindos, com pegada masculina, bem comportados). O tradicional turbante Neon é substituído por lenços à moda noviça e cestos de vime que viram chapéus. Em meio a tanta informação, tem ainda espaço para a camisa branca que é vestido, básica, despretenciosa, usada com bolsa de lado redonda bem anos 1970. Muito bem, Neon, é sempre um prazer!
A Ellus não foi muito longe, apenas deslocou os fashionistas para o Auditório do Ibirapuera. Ao som ao vivo da banda da modelo Geanini Marques, a marca aposta na alfaiataria rock and roll, glamurosa e sem frescuras. Calça reta, sequinha, mais curta, na cor cáqui, é aposta para eles e para elas, combinada com regatas amplas e bem cavadas, camisa transparente masculina e boleros femininos. O cinto pula da cintura para a gola, produzindo e efeito de colar. O amarelo, uma das cores principais da cartela, tinge a calça degradê, sendo mais escuro nas extremidades. Também tem verde, azul, branco e preto. Tecido tencológico plastificado deixa a coleção moderna e depojada e o sexy aparece nas peças curtas de couro branco, com barrados metálicos, em prata. Óculos espelhados são usados com maxiclutch e luvas que deixam a ponta dos dedos de fora, ao estilo Karl Lagerfeld, de couro branco. Bem adequado.
A V.Rom traz coleção agressiva nesta temporada, equlibrada pela mistura de elementos da "moda masculina", como a transparência e os mix de estampas, tecidos e até babdinho leve, na camisa quadriculada. O trabalho lembra um patchwork, com barrados de calça e blazer tipo caleidoscópio e florais esvoaçantes. A marca faz alsão a Jesus Cristo, com modelo cabeludo, de barba, usando adereço na cabeça à moda "coroa de espinho", aqui de correntes prateadas, acessório da vez. A estampa digital vermelha na ponta das peças brancas, como o blazer desconstruído, parecem manchas de sangue. Aliás, alguns rapazes tinham a boca borrada de vermelho, como se tivessem acabado de levar uma surra (daquelas pra valer) no backstage, sem tempo de se recompor para entrar na passarela. Na cartela, branco, preto, azul-marinho, rosa, para e dourado bem brilhantes.Bermudas cargo são usadas com paletó, blazer cropped ecolete. A alfaiataria revisitada ganha as formas do streetwear, com ousadias como o avental tipo carrasco-açougueiro, preto, de tecido plastificado brilhante, de alça fina. Coturnos, sapatênis prateado e tênis de cano longo à moda lutador são os sapatos da vez, enfeitados com penduricalhos prateados. A camisa é praticamente uma t-shirt, vai com tudo, de colarinho abotoado. É linda a bermuda-saia dourada (igual a boina, charmosa) e o colete com maxigola, sem mangas, também metálico. Um misto de folk-hiponga-nômade-valentão-urbano, pra macho.
Fause Haten faz desfile-poesia, um pouco parado demais. De olhos vendados por máscara de dormir branca, as modelos foram conduzidas por ajudantes até a ponta da passarela, onde o estilista fazia ajustes de última hora, como amarrar o cadarço da bota-sandália com peep toe e salto anabela, branca. O modelo over knee (acima do joelho) também apareceu e apesar do apelo já manjado da peça, familiarizada com o universo do fetiche, nem de longe pareceu ao menos sexy na passarela da FH por Fause Haten. Ao som de música de porta-joia, com cavalos de madeira na passarela, a coleção é surreal, infanto-juvenil, fantasia. Longos de renda transparente com bordado brilhante tem jeito de roupa de fada, bem fina, daquelas que se bater um vento é melhor rezar para não voar. Saia assimétrica, sendo a parte da frente bem mais curta que a de trás revelam a bota oversize, que tem o "encanto" quebrado pela blusa esvoaçante com estampa de olhos, tipo pijama de criança. Formas amplas com maxibabados se revezam com a silhueta seca das peças mais ousadas (ou menos caricatas), com emaranhado de faixas finas que definem a silhueta, sobre tecido transparente. Além do branco, rosa, azul, amarelo e verde-bandeira dominam a cartela de cores. No fim, todas tiram as vendas dos olhos. Ainda bem, se os fashionistas que estavam de olhos bem abertos já haviam dado uma ou duas bocejadas, imagina quem estava no escurinho...
Moda-praia de rica é tão bonita na passarela, não é? A coleção de Adriana Degreas é um refresco dourado aos olhos, já quase esgotados com a proximidade do fim da temporada de verão 2012 em São Paulo. A estilista fez bom trabalho de lurex em biquíni cortinha, hot pant e vestidos frente-única, de costas nuas. Folhas douradas são broches colocados no ombro único do maiô liso, marrom, meio deusa-grega. Peças que confundem, como o maiô que parece ser biquíni (a parte de baixo "passa" pela parte de cima para formar a peça inteiriça) e maiô com ombreiras aparecem como alternativa ao beachwear tradicional. Print animal discreto divide a estamparia com geometria leve e apaches gigantes (o kaftã com estampa de índio é incrível) e folhas bem verdes. Do mundo indígena também vieram as penas (tipo cocar) bordadas na parte de cima de alguns biquínis, lindos. Ainda mais ousadas são as peças feitas de maxicanutilho preto, fosco, como um mosaico monocromático bem estruturado. O fio dental de cós baixo aparece neste que é o verão menos sexy (mas não menos interessante) dos últimos tempos. Maiô com manga longa ampla e as saídas de banho superesvoaçantes são para aquelas que vão passar o próximo verão no hotspot dos hotsopots, ultrassofisticados, de caimento impecável. Prepare o corpão e o cartão! Caso contrário, nada feito.
A top Carol Ribeiro, apresentadora do It MTV, abriu o desfile de Lino Villaventura, o último deste dia 5, de vestido branco e rosa, todo assimétrico, com franjas na barra. Na sequência, vestidos transparentes, de tecido amassado, plissado, bem finos, longos, parecem roupa-viva (e com personalidade forte). Leggings e short bem finos têm efeito "segunda-pele", bem sutil, delicado e natural.A mistura de tecidos é precisa, sem poluir visualmente o look, criando texturas e perspectivas. Nesse clima mulher-elfa, tiaras moles que imitam ramos caem sobre os olhos, em dourado. Lino também propõe modelos de vestidos rodados, com saia curta armada, babado na barra (usado com meia-calça arrastão) e vestido-sereia, plissado. Ótima a proposta dos suspensórios invertidos, para os rapazes e no look dandy-andrógino desfilado pelo modelo Andrej Pejic, a estela da noite. A coleção masculina vem forte na alfaiataria, com paletós, bermudas amplas, calça seguinha com zíper na barra e lavagens tie-dye. O colete texturizado é selvagem, como se fosse a pele de um animal predador, em contraste aos delicados bordados femininos, de ramos, alinhavados cuidadosamente sobre os vestidos rodados. Os sapatos são encapados de tafetá, com aplicações. Na cartela, cores terrosas, nude, metálicos, preto e branco. Uma coleção complexa, aproximada à realidade por meio de looks que no geral são clean, mas riquíssimos em detalhes e acabamento impecáveis se analisados separadamente.

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