Páginas

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Balanço SPFW Verão 2012 - dia 1

Em mais uma temporada, a top Raquel Zimmermann abre a São Paulo Fashion Week (na edição passada, em janeiro deste ano, lá estava ela, linda na passarela, quando a semana de moda paulistana celebrou 15 anos de existência). A Animale vem neste verão toda brilhante, com peças inteiras de paetê, bordados e transparências elegantes.
A coleção é minimalista, sem aquela pegada agressiva das propostas passadas (lembra dos espinhos rock and roll?). As roupas esvoaçantes parecem ter sido escolhidas aleatoriamente (entre opções complementares, pensadas para serem tiradas "do mesmo saco", embora à deriva) e costuradas umas às outras de maneira imperceptível, formando as chamadas peças híbridas.



A alfaiataria segue o shape superamplo já confirmado para este verão 2012 no último Fashion Rio, com calças de boca larga, cheias de movimento e cós alto. Do guarda-roupa masculino estão firmes as influências do paletó-fraque, adaptado em versão ladylike. Às transparências a Animale adiciona bordado com brilho, paetê em formato de folha-estrela, típica dos cenários com neve (à moda fada-gelada, apesar de a coleção ser de verão). Também aparece o couro-verniz, branco, meio cowgirl de butique fina. Azul e prata predominam na cartela de cores, que conta com a ilusão furtacor dos bordados metálicos. Raquel fecha o desfile com conjunto branco de alfaiataria à moda dos anos 1970, bem dandy, proposta que provavelmente pegou de surpresa as clientes da marca que esperavam os minicomprimentos à piriguete e recortes fenomenais. Mas fiquem tranquilas, Priscila Darolt, estilista da Animale, sugere barriga de fora (cropped), decotes profundos e sobreposições supertransparentes. Sensualidade delicada, sem estampas.
Eduardo Pombal, da Tufi Duek, deixou os fashionistas intrigados com a pintura corporal que complementava os looks inspirados nos indígenas brasileiros (tramas que imitam cesta de palha trançada e mosaicos delicados, urbanos, que mostram e escondem). Feitas de paetê preto, as "tatuagens" tribais pareciam mangas, braceletes e bermudas sob saia godê durinha (bem semelhantes às vistas na coleção passada) e assimétrica. A alfaiataria reta das blusas-batas de alça bem fininha é combinada à calça com pegada fetichista, com cadarços laterais e boca estreita. A "Pocahontas tupiniquim" da Tufi Duek (índia guerreira, mocinha apaixonada e urbana) ainda ganha vestido bordado de paetê e canutilhos, curtos, à moda melindrosa, de costas nuas (de longe parecem roupa de ráfia, bem artesanal). Vermelho, preto, branco, verde, amarelo e laranja predominam na cartela de cores à brasileira, que de primitiva não tem nada.
Mesmo sem mobília na passarela, Samuel Cirnansck conseguiu manter o clima dramático de seus desfiles de alta-costura, neste verão 2012. Embora as formas sejam mais contidas (sem roupa-sofá ou bordados de Dia das Bruxas), com tubinhos mídi estampados, em cor de rosa, branco, preto e amarelo fluo, as noivas burlescas com mãos atadas e mordaças sadomasoquistas (bastão metálico bloqueando a boca, à moda Marilyn Manson) deram conta de segurar o drama e a ousadia já esperados.
Cordas prendem mãos e bocas, fazendo das noivas (com vestido rococó cheio, com babados, camadas, corset vitoriano) figuras angelicais, corrompidas pelo fetiche ultrachique, com detalhes pretos de bordado brilhante sobre o tecido branco tradicional. Pela impossibilidade de poder movimentar os braços, o buquê é carregado na boca (à Don Juan de Marco) e nas costas. Penitência fashion? Apesar do clima menina má, o véu fino de tule branco cobre todo o rosto, bem ao estilo dos casamentos de antigamente.
Cirnansck valoriza as curvas femininas, com modelos mais avantajadas para o considerado padrão de passarela. Cinturinha fina, quadril largo, seios mais fartos. Dita Von Teese iria adorar... Todo a atmosfera anjo-e-demônio foi adequadamente embalada por Lady Gaga à capela nas músicas "Born This Way" e "Speechless".
A moda masculina da Reserva encerra o dia 1 com coleção de verão 2012 inspirada no militarismo cubano. Divertida, com direito a cenário de Che Guevara com nariz de palhaço e soldados esculturais na passarela (além dos modelos), as roupas declaram patriotismo debochado com estampas que revisitam a bandeira de Cuba, como se fossem pintadas à mão. A série de xadrezes tem boas apostas de bermuda comprida e macacão. Listras e quadriculados são canelados, com pequenas fendas transparentes. O short ganha fita lateral, amarrada em um laço. O denim é combinado à camisa transparente ampla e sadália franciscana. Uma das peças mais intrigantes é a bermuda-saia longa, com estampa militar refrescada pelas pinceladas com efeito borrado, perfeita para o herói-soldado-às avessas. Vermelho e rosa são as apostas do color blocking (bloco de cores), na cartela que prioriza o verde, o azul e o branco. Tudo leve, quase um convite ao abandono da farda para um fim de semana na praia (de Havana, claro).



Nenhum comentário:

Postar um comentário